Ouro está "vazando" da Terra, diz descoberta científica

 


Imagine que a maior parte do ouro do mundo não está em cofres ou em veias subterrâneas, mas sim a quase 3 mil quilômetros de profundidade, no coração da Terra, onde as temperaturas chegam a mais de 5.000 °C. É exatamente isso que um estudo recente, feito por pesquisadores da Universidade de Göttingen, na Alemanha, e publicado na revista Nature, revelou.

Para ter uma ideia da quantidade, se todo esse ouro estivesse acessível, daria para cobrir o planeta com uma camada de 50 centímetros de espessura! Mas a grande novidade é que parte desse metal precioso está, de fato, "escapando" lentamente e chegando à superfície.

A surpreendente jornada do ouro

"Quando vimos os primeiros resultados, percebemos que tínhamos literalmente encontrado ouro", contou o geoquímico Nils Messling, líder do estudo. A equipe dele descobriu que material vindo do núcleo da Terra, incluindo ouro e outros metais valiosos, está se infiltrando no manto (a camada entre o núcleo e a crosta terrestre) e, por fim, chega à superfície por meio do magma vulcânico.

Essa descoberta foi possível graças à análise de rochas vulcânicas encontradas nas ilhas do Havaí. Os cientistas notaram que essas rochas tinham uma quantidade muito alta de rutênio-100, um tipo raro de metal que é mais comum no núcleo da Terra do que no manto.

A diferença entre o rutênio do núcleo e do manto é tão pequena que era quase impossível de ser detectada até agora. Mas a equipe de Göttingen desenvolveu novas técnicas precisas para fazer essa comparação. A conclusão? O rutênio-100 nas lavas do Havaí só poderia ter vindo da fronteira entre o núcleo e o manto, a uma profundidade de mais de 2.900 quilômetros.

Como o ouro começou a "escapar"

Esse fenômeno tem suas raízes em como a Terra se formou, há cerca de 4,5 bilhões de anos. Naquela época, durante um período chamado "catástrofe do ferro", os elementos mais pesados, como o ouro, afundaram para o interior derretido do nosso jovem planeta e ficaram presos no núcleo. Mais tarde, meteoritos que caíram na Terra trouxeram ainda mais ouro e outros metais pesados para a parte de fora do planeta, a crosta.

Antes desse estudo, já se sabia que alguns gases, como o hélio, poderiam vazar do núcleo. Mas não havia provas de que metais pesados também pudessem. Esta nova pesquisa mostra que todos os elementos que foram para o núcleo quando a Terra estava derretida – como rutênio, ouro, paládio, ródio e platina – estão vazando.

O professor Matthias Willbold, outro cientista envolvido no estudo, explicou que grandes volumes de material superaquecido do manto, que vêm da fronteira entre o núcleo e o manto, sobem para a superfície da Terra e formam ilhas oceânicas, como o Havaí.

Ouro do núcleo: uma nova perspectiva

Embora não seja possível escavar quase 3 mil quilômetros para chegar ao núcleo da Terra, e o processo de "vazamento" seja muito lento para qualquer tipo de mineração comercial, essa descoberta muda o que sabemos sobre o nosso planeta.

"Nossas descobertas não mostram apenas que o núcleo da Terra não é tão isolado quanto se pensava", disse Willbold. Ele também sugeriu que alguns dos metais preciosos usados hoje em setores importantes, como o de energia renovável, podem ter vindo originalmente do núcleo da Terra.

A pesquisa abre novas perguntas: será que esses processos de vazamento também aconteceram no passado? E de que forma eles ajudaram a moldar o funcionamento do nosso planeta por dentro?

"Nossas descobertas trazem uma perspectiva completamente nova sobre como o interior do nosso planeta evoluiu", concluiu Nils Messling. É uma visão fascinante de como o ouro e outros metais podem estar viajando das profundezas da Terra até a superfície.