Morre o papa Francisco aos 88 anos no Vaticano

Papa Francisco acena para fiéis no Domingo de Páscoa

O papa Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, faleceu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, às 2h35 no horário de Brasília (7h35 no horário local). O Vaticano confirmou a informação e anunciou que a causa da morte será detalhada em um comunicado previsto para as 15h, no horário de Brasília.

Francisco, que liderou a Igreja Católica por 12 anos, estava em recuperação de uma pneumonia em ambos os pulmões. Ele faleceu em seu apartamento na Casa Santa Marta, no Vaticano, onde residia desde que assumiu o papado em 2013.

Cerimônias fúnebres já têm início nesta segunda-feira

Segundo o Vaticano, os ritos funerários de Francisco começam ainda nesta segunda-feira.

  • Missa de sufrágio: acontecerá na Basílica de São João de Latrão, em Roma, sob celebração do cardeal Baldo Reina.
  • Constatação da morte e preparação do corpo: a cerimônia será realizada na capela privada do papa e presidida pelo camerlengo Kevin Farrell.
  • Velório: na quarta-feira (23), o corpo será levado para a Basílica de São Pedro, em Roma, onde os fiéis poderão se despedir.
  • Sepultamento: o enterro ocorrerá na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma — algo que não acontecia desde 1903, quando o papa Leão XIII foi sepultado fora da Basílica de São Pedro.

Na manhã desta segunda-feira, o sino da Basílica de São Pedro tocou para anunciar a morte do pontífice, emocionando turistas e peregrinos que estavam no Vaticano durante o feriado de Páscoa, segundo a agência Reuters.

Primeiro papa latino-americano e jesuíta

Francisco nasceu em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, na Argentina. Foi o primeiro papa latino-americano da história e também o primeiro jesuíta a assumir o cargo. Sua eleição ocorreu em 13 de março de 2013, no segundo dia do conclave que escolheu o sucessor de Bento XVI. O próprio Bergoglio declarou posteriormente que não desejava ser eleito.

Durante os quase 12 anos de pontificado, ele foi o 266º papa da Igreja Católica.

Problemas de saúde e internações recentes

O papa vinha enfrentando problemas de saúde desde o início de fevereiro, quando foi internado pela primeira vez. A pneumonia bilateral que o levou à morte foi diagnosticada após uma infecção polimicrobiana, considerada grave pelo Vaticano.

Durante esse período, Francisco teve dificuldades para discursar em audiências e chegou a pedir que auxiliares o ajudassem. Foi internado no hospital Agostino Gemelli, recebeu tratamento para bronquite e, mesmo hospitalizado, participou de algumas atividades religiosas. Ele teve alta no dia 23 de março e permaneceu sob cuidados médicos até sua morte.

Uma trajetória construída com simplicidade

Apesar de ter sido escolhido papa contra sua vontade, a vocação religiosa foi uma escolha própria de Bergoglio. Formado em Ciências Químicas e professor de Literatura, era filho de imigrantes italianos. Tornou-se conhecido pelo estilo simples e descontraído, sendo querido entre os cardeais.

Assumiu o comando da Igreja em um momento delicado, marcado por escândalos e queda na popularidade. Enfrentou temas espinhosos, como os direitos LGBTQIA+, o papel da mulher na Igreja e os casos de abusos sexuais.

Reformas e modernização da Igreja

Francisco promoveu reformas significativas na estrutura da Cúria Romana, com destaque para as áreas econômica e financeira. Dando continuidade à reestruturação iniciada por Bento XVI, seu papado foi marcado pelo combate à lavagem de dinheiro e pela transparência.

Mesmo sendo considerado um reformador, não alterou a doutrina da Igreja em temas como aborto, celibato e ordenação de mulheres. Francisco defendia que o sacerdócio deveria continuar restrito aos homens, com base no exemplo dos apóstolos escolhidos por Jesus.

Posição firme em discursos políticos

O pontífice também ficou conhecido por suas posições políticas contundentes. Criticou líderes como Vladimir Putin e Benjamin Netanyahu e não poupou a União Europeia ao tratar da crise dos refugiados. Em 2020, durante a pandemia de Covid-19, protagonizou uma das cenas mais simbólicas de seu pontificado: rezou sozinho na Praça de São Pedro completamente vazia.

Opção pelos pobres e lema do pontificado

Ao ser eleito, escolheu o nome Francisco em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de humildade e defensor dos pobres. Seu lema foi “Miserando atque eligendo” — “Olhou-o com misericórdia e o escolheu”.

O papa tinha como prioridade a luta contra a pobreza e acreditava que a Igreja deveria agir como um "hospital de campanha", acolhendo todos, inclusive os que estavam em situações irregulares.

Início da vida religiosa e ascensão na hierarquia

Antes de se tornar papa, Bergoglio teve uma trajetória intensa na vida religiosa:

  • Em 1958, ingressou no noviciado da Companhia de Jesus.
  • Estudou humanidades no Chile e, ao retornar à Argentina, foi professor de literatura e psicologia.
  • Em 1969, foi ordenado sacerdote.
  • Entre 1973 e 1979, liderou os jesuítas na Argentina.
  • Foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel.
  • Em 1992, tornou-se bispo auxiliar de Buenos Aires.
  • Em 1997, assumiu como arcebispo e, em 2001, foi nomeado cardeal por João Paulo II.

Na Santa Sé, participou de diversas congregações e comissões. Foi presidente da Conferência Episcopal da Argentina entre 2005 e 2011.

Legado de um papa reformador

Mesmo com dores no quadril e idade avançada, Francisco evitava falar em renúncia. Em 2015, chegou a afirmar que seu pontificado seria breve, mas seguiu firme até o fim. Especialistas como Marco Politi o consideram um grande reformador, por buscar abrir a Igreja ao mundo moderno, nos moldes do Concílio Vaticano II.

Foi o primeiro papa a convidar um transexual ao Vaticano e afirmou que não julgaria os homossexuais. Sua postura de acolhimento e misericórdia marcou profundamente seu papado.

Francisco deixa um legado de coragem, compaixão e esforço constante por uma Igreja mais próxima dos fiéis e menos rígida em seus julgamentos.