Elon Musk 'decepcionado' com projeto de gastos de Trump, marcando ruptura política


Elon Musk, figura proeminente da tecnologia, expressou sua "decepção" com o projeto de lei de impostos e gastos proposto por Donald Trump, um movimento que sinaliza um afastamento do presidente dos EUA, a quem ele apoiou na reeleição em 2024. A declaração de Musk destaca tensões internas dentro do Partido Republicano de Trump em relação aos planos fiscais.

Na semana passada, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou, por uma margem apertada, o que Trump descreve como seu projeto de lei "grande e belo". Essa legislação inclui isenções fiscais de trilhões de dólares e a promessa de aumentar os gastos com defesa, e agora seguirá para o Senado para votação.

Em uma entrevista à CBS News, parceira da BBC nos EUA, Musk afirmou que o plano "mina" o trabalho que ele vinha realizando para o presidente na área de redução de gastos. Musk havia sido nomeado por Trump como "czar do corte de custos", com a função de encerrar fundos para ajuda externa dos EUA, entre outros projetos, antes de anunciar seu afastamento.

"Francamente, fiquei decepcionado ao ver o enorme gasto público", disse Musk em um trecho da entrevista ao CBS Sunday Morning, divulgado pela emissora antes da transmissão. Ele argumentou que o plano de Trump "aumenta o déficit orçamentário, não apenas o diminui". Estima-se que a nova legislação poderia elevar o déficit — a diferença entre o que o governo gasta e a receita que recebe — em cerca de US$ 600 bilhões no próximo ano fiscal.

Musk também criticou o projeto de lei por "prejudicar o trabalho que a equipe do Doge está fazendo", referindo-se ao Departamento de Eficiência Governamental, órgão consultivo de corte de custos. Com um toque irônico sobre o apelido que Trump deu à legislação, Musk acrescentou: "Acho que um projeto de lei pode ser grande ou bonito. Não sei se pode ser os dois."

A Política de Gastos de Trump e Seus Impactos

Por muito tempo uma prioridade política de Trump, a legislação visa estender os cortes de impostos aprovados durante seu primeiro governo em 2017, que estão prestes a expirar. Além disso, o projeto prevê um grande investimento em gastos com defesa e no financiamento das deportações em massa planejadas pelo presidente.

Um aspecto crucial do projeto é a proposta de aumentar o teto da dívida para US$ 4 trilhões, que é o limite da quantia que o governo pode tomar emprestado para cobrir suas despesas.

Falando a repórteres no Salão Oval, Trump admitiu não estar "feliz com certos aspectos" do projeto, mas ao mesmo tempo se mostrou "entusiasmado" com pontos como os cortes de impostos. Mantendo sua retórica, ele reiterou: "É uma conta grande e linda. E é linda por causa de tudo o que temos." Quando questionado sobre os comentários de Musk, Trump preferiu não se manifestar diretamente.

O Distanciamento de Musk e Seus Compromissos Futuros

Os comentários de Musk sobre o projeto de lei indicam um crescente distanciamento de Trump, a quem ele ajudou a retornar à Casa Branca no ano passado com doações que ultrapassaram US$ 250 milhões. A crítica surge após o bilionário ter prometido se afastar do Doge, onde ele havia declarado a intenção de ajudar o governo a cortar US$ 1 trilhão em gastos, por meio do cancelamento de contratos e da redução de funcionários públicos.

Até abril, o site do Doge reportava uma economia de cerca de US$ 175 bilhões, embora análises sobre esse valor apontassem a falta de algumas evidências.

Musk também anunciou recentemente que pretende gastar "muito menos" com política no futuro e que está comprometido em liderar a Tesla, sua empresa de carros elétricos, por mais cinco anos. A Tesla, inclusive, enfrentou protestos, boicotes e uma queda nas vendas devido ao envolvimento de Musk como chefe do Doge e seus esforços controversos para demitir milhares de funcionários federais e restringir a ajuda externa.

Defendendo suas ações na semana passada, Musk declarou: "Fiz o que precisava ser feito". Ele e Trump justificaram anteriormente os cortes como uma forma de eliminar o que consideravam fraude e abuso nos gastos federais.