Indiciamento de Bolsonaro antecipa 2026, altera discurso político e levanta temor de delações de generais

O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas pela Polícia Federal (PF), sob suspeita de envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado, provocou intensos debates políticos e rearranjos estratégicos na direita brasileira. O caso, que inclui a delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, tem gerado temor no entorno de Bolsonaro e antecipado especulações sobre as eleições presidenciais de 2026.
Generais no centro das atenções
A possibilidade de militares de alta patente cooperarem com o Ministério Público Federal (MPF) preocupa aliados de Bolsonaro. Segundo fontes próximas, há um receio crescente de que esses oficiais possam firmar acordos de delação premiada que comprometam ainda mais o ex-presidente. Um dos aliados chegou a afirmar que “os generais são inconsequentes”, aumentando a tensão dentro do núcleo político do ex-presidente.
Essa inquietação ganhou força após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, tornar público o relatório de 884 páginas da PF que detalha as investigações. O documento é visto por apoiadores de Bolsonaro como parte de uma estratégia para inviabilizar sua candidatura presidencial em 2026.
Narrativa de perseguição política
Parlamentares ligados a Bolsonaro têm adotado um discurso que reforça a ideia de perseguição política. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) declarou em suas redes sociais que o objetivo das investigações é “tirar da corrida eleitoral o único nome capaz de derrotar Lula”. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) endossou essa visão, acusando a esquerda de tentar tornar seus oponentes inelegíveis.
Essa narrativa busca mobilizar a base de eleitores ao redor de Bolsonaro, posicionando-o como vítima de um sistema que estaria manipulando as instituições para prejudicá-lo. A estratégia também mira no fortalecimento do capital eleitoral do ex-presidente, transformando as acusações em trunfos políticos.
Paralelo com Donald Trump
O caso de Bolsonaro é frequentemente comparado ao de Donald Trump, que mesmo enfrentando processos judiciais conseguiu retornar à presidência dos Estados Unidos em 2024. Para bolsonaristas, o desfecho americano serve como inspiração e modelo. Alguns aliados acreditam que uma eventual prisão de Bolsonaro poderia consolidar ainda mais o apoio popular em torno de sua figura.
O vereador eleito Gilson Machado Filho (PL-PE) ressaltou essa expectativa, afirmando que “a direita até vai se beneficiar com isso, pois o povo se comove com perseguições injustas”.
Planos alternativos e desafios para 2026
Diante da possibilidade de inelegibilidade de Bolsonaro, já há discussões no PL sobre estratégias para manter o protagonismo político. Os nomes de Flávio e Eduardo Bolsonaro surgem como potenciais substitutos na disputa presidencial, caso o ex-presidente fique impedido de concorrer. Essa abordagem lembra a estratégia do PT em 2018, quando Lula foi substituído por Fernando Haddad após ser barrado judicialmente.
No entanto, a direita enfrenta outros desafios. Além de Bolsonaro, o candidato Pablo Marçal (PRTB) também está envolvido em processos que podem comprometer sua elegibilidade. Já Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, enfrenta uma ameaça menor, mas que ainda preocupa o partido.
Enquanto isso, o cenário político segue polarizado, com investigações judiciais e articulações estratégicas moldando o rumo das eleições de 2026. Para Bolsonaro e seus aliados, o momento é de tentar transformar as adversidades legais em força política, buscando replicar exemplos internacionais e consolidar sua base eleitoral diante das dificuldades.